segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Pressa

Ele hoje acordou cedo, tão cedo que novamente me deu os comandos da vida enquanto Ele se deixava ir num sono consciente, movimentava-se de forma automatizada e eu observava atentamente tudo o que O rodeava, até porque a sua desatenção poderia meter em causa a minha existência. Para passar a estrada tinha que ser eu a guiá-lo, entre o puxe e empurre das portas era eu que estava lá para lhe dizer o que fazer, apesar do corpo ser Dele hoje os movimentos eram meus.
Apesar de ainda não ser Primavera é a primeira vez que vejo um dia solarengo, sem contar todas aquelas memórias que Ele criou em mim para que tivesse personalidade, à parte disto, não entendo o porquê Dele me deixar saber que sou uma projecção, talvez seja para saber que, tal como todos, eu próprio posso desaparecer de um dia para o outro e assim dar valor ao que tenho, mesmo que seja uma mão cheia de nada.
Acho piada sempre que observo o mundo pelos olhos Dele, só não entendo como as pessoas não se dão conta de tudo o que acontece ao seu redor, se eu tivesse um rosto real, se pudesse expressar com um rosto tudo o que me rodeia, seria uma cara de admiração, de surpresa, estou maravilhado mesmo que todas as minhas memórias sejam uma recriação deste mundo.
Hoje não vou tentar passar nenhuma mensagem, nem nenhuma reflexão sobre a tua existência, só acho que se vive sempre achando que é demasiado cedo para tudo e tão tarde para tudo o resto, como que se vivesses com prazo de validade.
Ele chegou bem a casa, talvez o vá deitar.

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