quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Habitava numa casa de silêncios (I)

Habitava numa casa de silêncios, os meus pensamentos gritavam mais alto que noutras alturas, ecoavam por todos os cantos da casa, ressoavam por entre os móveis até chegar a mim novamente.
Um conflito interno entre o que é certo ou errado, concordo, discordo, cala-te, ouve-me, concentra-te, grito, todo o meu pensamento grita, enaltece uma dor que não se sabe a sua origem, é estranho, talvez o corte me acalme a dor, talvez a dor me estanque o sangue.
Seria assim tão mau falar de loucura? Seria assim tão estranho subir as escadas só para as descer e dizer que não posso ir mais fundo? Quanta dor conseguimos nós aguentar? Em que momento diremos basta? Grito, grito bem alto, grito de forma a conseguir-me ouvir, grito para que me faça ouvir, talvez alguém me salve, talvez me faça notar no meio desta multidão que se esbarra entre si e que mesmo se olhando nos olhos são estranhos, até aqui, quantas vezes não te sentaste à mesa com pessoas que te são estranhas, até mesmo aquelas que tu cumprimentas todos os dias?
Escrevo sem qualquer razão neste momento, escrevo porque senti a necessidade de o fazer, do mesmo modo que uma necessidade fisiológica em que sou obrigado a descarregar os fluídos que acumulei durante o dia. É tão estranho ser-se sem existir, mais estranho é não existir e mesmo assim ser-se visto, poderem-me tocar.
Que planos tinha eu? Voltei a não fazer nada com o meu tempo, voltei a deixar-me ficar nesta monotonia que me acompanha há vários dias, nada fiz, nada foi feito, nada quero fazer…. Incomoda-me o facto de não saber existir, existir existo, não da forma que desejaria, isto é, gostaria de existir de um outro jeito, daquele jeito em que nada me incomoda, nada me fará mal, talvez, talvez a ignorância ou a inconsciência me fizesse bem, do mesmo modo que vejo outros felizes, onde a pergunta mais simples se torna num silêncio absurdo, onde a opinião é um já ouvi falar, pior mesmo, é dizer que é assim porque o Zé disse que era assim.
Tinha perguntas ainda por responder, quem sou eu? Que é feito de ti? Como chegaste até aqui? Seria assim tão estranho? Perguntar para onde vou? Que direcção seguir? Até onde posso ir? Deixei-me levar e fui levado, não é que o vento me tenha levado, sinto que fui posto numa multidão e simplesmente segui os passos, acompanhei a multidão e segui na mesma direcção, até porque, quem vai contra a multidão? Diz-me quem? O truque não é ir contra a multidão é fazer-se parte da mesma focado no seu próprio papel, com sorte, poderemos mudar a mentalidade de meia dúzia e depois, só depois, juntos, será mais fácil mudar a direcção.
Escrevia, aleatoriamente sobre o que me apetecia, desconcentrado com a tarefa, quantas páginas não foram já rasgadas por erros meus? Reciclo os meus pensamentos, os meus sentimentos, evaporo numa neblina que nem eu reconheço, fui quem sou, sou quem fui, atentei a mim, silêncio, seguido de gritos….

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