sexta-feira, 1 de março de 2019

Habitava numa casa de silêncios (II)

Ainda me pergunto, até onde chega o meu tempo? Quando é que a morte me leva? Quando é que terei a paz merecida? Não será só mais um estado? Uma fase da própria vida? Uma interrogativa que merecia resposta já, é que amanhã não sei se me vai interessar, na verdade não vai, é que, depois de morto que interesse vai existir?
Escrevo porque sim, porque nada me dá mais prazer do que escrever neste momento, talvez amanhã pinte, talvez amanhã chore e grite, talvez amanhã não exista mais e isto fica como um registo da minha existência, imortalidade, em parte é algo que todos procuram, não serei diferente nesse aspecto, apesar de não querer imortalizar o meu corpo e sim a minha alma, acho, que em algum momento uma parte de mim se vai desprender e continuar a existir, energia, energia que vai acabar por se dispersar por todo o universo. Atenção, segundo o que o Zé disse, a base de tudo é o carbono, se o é, então um dia, se assim o é, voltarei a ser a base do princípio de todas as outras coisas.
Assumi, de forma clara que iria fazer o que fosse preciso para vencer, só não sei que guerra estou a travar, antes de mais, esta guerra é interna e só depois externa, esta guerra é tanto minha como tua, é um misto de existências onde ninguém sabe onde existe mais. Pensa comigo, não sou ninguém, não és ninguém, sentes que sentes, és ou não ouvido. Interrompo o pensamento para as notícias, não morreu ninguém, hoje nada se fez, procurei em todas as partes de mim, interrompi toda uma existência para que te ouvir, será que te expressaste da melhor forma?
Agora acorda, é uma pena que não o faças no tempo certo, diz-me, quantas vezes não te deitaste sem vontade de dormir? Quantas vezes não tentaste enrolar-te no teu próprio corpo e choraste? Sentes que sentes, sentes saudade, sentes que sentes, uma busca infinita pela tua alma, onde a terás deixado largada? Foste tu, não foi mais ninguém, foste tu que a abandonaste do mesmo modo que se abandonam os animais quando se vai de férias, por aquele curto espaço de tempo em que pensa ser para sempre, tostões contados, aguenta.

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