quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Será possível?

Dizem que a vida nos passa em segundos na beira da nossa morte, pergunto-me eu, se nesses segundos pudéssemos mudar alguma coisa será que o desfecho da nossa história seria diferente? Criar uma ilusão de nós próprios, uma viagem um pouco diferente, como que se não soubéssemos todos os acontecimentos, algum factor, um gatilho, uma memória esquecida.
Pergunto-me se existe a possibilidade de mudar o que já foi vivido, como tantas recordações que temos que quando partilhadas com aqueles que as partilharam connosco as vêem de maneira diferente. Aquela partida de futebol em que nos lembramos de ter marcado o golo da vitória, mas para o resto da equipa foi outro alguém, que memória é a verdadeira? O que foi realmente real? Lembro-me de muitos episódios que hoje contados seriam mentira, não se lembram de assim ter acontecido. Faz-me questionar a veracidade das minhas memórias, se elas são partilhadas mas só eu me lembro da versão correcta ou serei eu que estou errado?
Então pergunto-me, se é possível mudar, naquele vislumbre de fim de vida, o meu final, ou até mesmo enganar a morte e a vida e tomar a vida que quero e sempre quis para mim.
A nossa mente prega-nos tantas partidas e no fundo todos nós caímos, será um tipo de loucura dissimulada? Como podemos olhar para o mesmo acontecimento e tirar ilações diferentes e até mesmo ver coisas completamente diferentes? Mudando toda a estrutura e veracidade da “memória”. Quantas vezes na história não falamos em alguém que fez isto e na verdade não foi, como uma notícia falsa que ganha força por cada pessoa que a ouve, que se espalha como um cancro e, aos olhos dos demais, não passa, é a verdade, é verdade porque aquele conhecimento é partilhado por muitos.
É mentira, mas como podemos dizer isso se só nós temos outra versão da história, nem tudo dará para provar, por mais que nos tentemos recordar das coisas.
Aqui estou eu, deitado no fim do mundo, do meu mundo, cansado, debilitado, a vida foi demasiado injusta para mim, talvez, talvez eu próprio tenha sido injusto para comigo mesmo, sei bem que nem sempre tomei as decisões certas mas também nunca poderia imaginar que este seria o meu fim. Um fim triste, não há nada mais triste que morrer sozinho sabendo que se tivéssemos tomado outras decisões isto não acontecia, sabendo que nem sempre fomos os mais correctos, sabendo que, achamos ter sempre razão.
Será possível? Ainda mudar esta memória? E morrer na companhia dos demais?

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